Afinal a vida foi,é...e será sempre um desafio na sequência sólida de percorrer caminhos que se ajustem à reflexão equilibrada e tolerante, onde os projetos nunca acabem, e se definam cada vez mais naquilo que queremos ser, e não no que os outros querem que nós sejamos...
Perceber que refletir e concluir são atos que não podem estar confinados apenas ao reflexo daquilo que experimentamos sozinhos, ou obcecadamente vemos nos outros,caindo assim na tentação de criar verdades absolutas agarradas a pressupostos com falta de equilíbrio identificativo da nossa própria vontade...
Não podemos nem devemos querer para os outros aquilo que foram momentos nossos,e ajustados apenas e só para nós próprios...
Fazer crescer é educar e tentar ser amigo,é procurar limar com valores acrescentados os passos próprios de uma imaturidade pela qual quando jovens naturalmente passamos,e ou se está bem atento,ou então ficamos apenas por nossa conta,e isso pode ser muito perigoso...
Sinto sinceramente que os "meus" me olham com a admiração de quem foi livre de escolher o seu próprio caminho,com responsabilidade e dispensando cópias comportamentais,mas entendendo que a partir de uma "base experimentada" também podemos ramificar genuinamente o nosso próprio"eu"...
Só se vive uma vez,e tirar originalidade a um ser,é limitar as emoções que estavam reservadas para cada um,e isso eu penso que não é justo...

Custódio Cruz

Aprender com a nossa sombra,e fixar os olhos em outras...

Aprender com a nossa sombra,e fixar os olhos em outras...
"...No dia em que me silenciarem a voz,não me apagarão os gestos,no dia em que me aniquilarem os gestos,nunca farão esquecer os meus sentimentos..." CustCruz

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Morreu o Senhor Joaquim...



Um homem com história,que nunca lançou um livro para contar o tanto que tem,e até mesmo muito mais dos que hipocritamente o fazem para justificar talentos,onde só se assinalam valorosas as simples letras,iludidas em artifícios gramaticais que não lhe dão aquilo que pode marcar a diferença entre o ser,e o não ser nada de mais.
Se o mundo não fosse tão egoísta e frio,também saberia valorizar quem cai na rua por alguma razão,e no aproveitamento de incidências de vida,salvaria "uma criatura" que o mais certo seria surpreender-nos nas conclusões corporizadas na experiencia vivida de dentro para fora.
Que lirismo o meu,que ainda acredito no "pai natal",em tempos de "céus carregados de nuvens hipócritas",e que por isso nos trazem inundações de poetas toscos,escritores engravatados,ou doutores de cartilhas copiadas pelo "vento retórico",seria lá de esperar que um "qualquer sol"iluminasse a solidariedade humana.
Morreu o Joaquim,eu não o conhecia,e nem o fiquei a conhecer,porque ele era aquele homem(zito) que defendeu a sua Pátria,na esperança de um futuro melhor para aqueles que entretanto passavam apressados,e se iam esquecendo que a vida não é só feita daquilo que nós fazemos e conquistamos.

Custódio Cruz
Foi esta madrugada em plena baixa de Lisboa que morreu Joaquim.
Não era actor nem artista. Não era famoso, nem conhecido. Não tinha fama. Era só o Joaquim.
Era apenas um homem que tinha passado pela guerra, que tinha sido abandonado pela nação e pelo povo pelo qual lutou. Um homem cuja vida era passada entre um embrulho de papel e uma resma de jornais sendo estes o cobertor que noite após noite abraçava o seu corpo cansado das cicatrizes dos homens e das mulheres que por ele passavam e nem um olhar lhe dirigiam.
Era o Joaquim. Homem que não se achava merecedor de uma cama quente, de um duche tranquilizante, de um prato de sopa que lhe apazigua-se o rato que amiúde lhe roía o estômago. Era o Joaquim de botelha na mão, carro do mercado nas unhas com o qual transportava os seus bens mais preciosos.
O Joaquim...
O homem de sobretudo roto, barba comprida entrançada pela sujidade do ar, rugas profundas resultado de uma vida cansada, desnorteada, carente de um ombro amigo, de uma palavra de alento, de um sorriso infantil.
Morreu o Joaquim.
Aquele que sorria para todos sem troco, que brincava aos loucos com plena consciência do seu estado de miséria, aquele cujo os seres passavam e diziam:
- Este é que a leva bem sem preocupações.
Sim...
Foi esse o Joaquim que morreu.
O Joaquim que tu, eu e ninguém quer ser mas que ninguém está livre de lá chegar.
Morreu o Joaquim. Sem honras, sem reconhecimento. Profundamente esquecido por uma sociedade hipócrita e egoísta de falsos principais apregoados a vista de todos e olvidados em privado.
Morreu o Joaquim...
Aquele que um dia pode vir a ser qualquer um de nós.
Morreu e foi enterrado em pleno silencio.
(Dinis Portugal Neto, via Sem Abrigo, Uma questão social )